Peregrinos de Esperança

Peregrinos de Esperança
Homilia de Dom Moacir Silva na Festa da
Sagrada Família e Abertura do Jubileu 2025
29 de dezembro de 2024

Queridos irmãos e queridas irmãs no Santo Batismo. Queridos irmãos e queridas irmãs na Vida Consagrada. Queridos irmãos no Ministério Ordenado. Com esta solene celebração, em comunhão com toda a Igreja, estamos abrindo o Jubileu do ano 2025 em nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto. Acolhemos este Ano Jubilar como um dom de Deus. Nos precedeu em nossa peregrinação, que fizemos a pouco, a Cruz de Cristo. “Em um mundo no qual o progresso e o retrocesso se entrelaçam, a Cruz de Cristo permanece a âncora da salvação: sinal de esperança que não desilude, porque está fundada no amor de Deus, misericordioso e fiel” (Papa Francisco – Audiência Geral de 21/09/22). É o caminho da Sagrada Família de Deus que, no hoje da Igreja, avança em direção à Jerusalém celeste.

Este Ano Jubilar deverá ser, para todos, um momento de encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus, porta da salvação; com Ele, que a Igreja tem por missão anunciar sempre, em toda a parte e a todos, como sendo a nossa esperança. Cristo, nossa esperança.

Encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus! Aqui, a Sagrada Família de Nazaré nos inspira e nos ajuda. Nela o Senhor Jesus é o centro de tudo. José e Maria organizam a vida em torno de Jesus, em vista de Jesus, e sempre em profunda obediência ao projeto do Pai.

No Evangelho de hoje, encontramos Jesus que afirma: “Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?”. Estas palavras, as primeiras que Jesus pronuncia no Evangelho de Lucas, são uma espécie de definição do seu programa de vida. Aqui, Jesus enuncia o princípio fundamental que norteia a sua existência: Deus é o princípio, o centro e o fim de toda a sua vida; Ele fará sempre tudo para estar com Deus, para escutar Deus, para obedecer a Deus, para viver ao ritmo de Deus.

Estas palavras dizem-nos que a tarefa de Jesus, o seu objetivo de vida, o seu desejo mais profundo é estar com o Pai, penetrar na intimidade do Pai, viver ao ritmo do Pai, obedecer ao Pai, ocupar-se das coisas do Pai, concretizar no mundo o projeto salvador do Pai. É isto que vai orientar toda a vida de Jesus.

Para Jesus, as exigências do Pai estão acima de todas as outras exigências. São a sua prioridade absoluta. Se o Pai o chama, Ele deixa tudo para trás para ir ao encontro d’Ele. Se o Pai o manda “beber o cálice” e entregar a vida na cruz, Ele o faz (cf. Lc 22,42). Maria e José têm de saber isto e aceitá-lo. E de fato aceitaram, porque organizaram a vida em torno de Jesus e em vista de Jesus. Maria e José nos convidam a fazermos o mesmo: construir nossa vida sobre o alicerce que é Jesus; orientar nossa vida e projetos tendo como critério e medida a Pessoa e a Palavra de Jesus. O Ano Jubilar nos convida a isso: encontro vivo e pessoal com Ele.

O Santo Padre deseja que, durante o Ano Santo, zele-se para que o povo de Deus possa acolher, com plena participação, tanto o anúncio da esperança da graça de Deus como os sinais que atestam a sua eficácia.

Neste sentido, na noite de Natal, abrindo o Jubileu, o santo Padre disse: Irmãs, irmãos, este é o Jubileu, este é o tempo da esperança! E ele convida-nos a redescobrir a alegria do encontro com o Senhor, chama-nos a uma renovação espiritual e compromete-nos na transformação do mundo, para que este se torne verdadeiramente um tempo jubilar: que seja assim para a nossa mãe Terra, desfigurada pela lógica do lucro; que seja assim para os países mais pobres, sobrecarregados de dívidas injustas; que seja assim para todos aqueles que são prisioneiros de antigas e novas escravidões.

A nós, a todos nós, o dom e o compromisso de levar a esperança onde ela se perdeu: onde a vida está ferida, nas expectativas traídas, nos sonhos desfeitos, nos fracassos que despedaçam o coração; no cansaço de quem já não aguenta mais, na solidão amarga de quem se sente derrotado, no sofrimento que consome a alma; nos dias longos e vazios dos encarcerados, nos aposentos estreitos e frios dos pobres, nos lugares profanados pela guerra e pela violência. Levar esperança nestes lugares, semear esperança nesses locais.

O Jubileu abre-se para que a todos seja dada a esperança, a esperança do Evangelho, a esperança do amor, a esperança do perdão.

Para isso, meus irmãos e minhas irmãs, precisamos ser pessoas de esperança, peregrinos de esperança. Sabemos que a esperança forma, juntamente com a fé e a caridade, o tríptico das virtudes teologais, que exprimem a essência da vida cristã. No dinamismo indivisível das três virtudes, a esperança é a virtude que imprime, por assim dizer, a orientação, indicando a direção da existência que crê. Por isso, o apóstolo Paulo convida-nos a ser “alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração” (Rm 12, 12). Assim deve ser; precisamos de transbordar de esperança (cf. Rm 15, 13) para testemunhar de modo credível e atraente a fé e o amor que trazemos no coração; para que a fé seja jubilosa, a caridade entusiasta; para que cada um seja capaz de oferecer ao menos um sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma escuta sincera, um serviço gratuito, sabendo que, no Espírito de Jesus, isso pode tornar-se uma semente fecunda de esperança para quem o recebe. Mas qual é o fundamento da nossa esperança? Para o compreender, é bom deter-nos nas razões da nossa esperança (cf. 1 Pd 3, 15) [cf. SnC 18].

“Creio na vida eterna”: assim professa a nossa fé, e a esperança cristã encontra nestas palavras um ponto fundamental de apoio. De fato, “é a virtude teologal pela qual desejamos (…) a vida eterna como nossa felicidade” (CIgC, 1817). O Concílio Ecumênico Vaticano II afirma: “Se faltam o fundamento divino e a esperança da vida eterna, a dignidade humana é gravemente lesada, como tantas vezes se verifica nos nossos dias, e os enigmas da vida e da morte, do pecado e da dor ficam sem solução, o que frequentemente leva os homens ao desespero” (GS, 21). Enquanto, em virtude da esperança na qual fomos salvos, vendo passar o tempo, temos a certeza de que a história da humanidade e a de cada um de nós não correm para uma meta sem saída nem para um abismo escuro, mas estão orientadas para o encontro com o Senhor da glória. Por isso vivemos na expectativa do seu regresso e na esperança de vivermos n’Ele para sempre: é com este espírito que fazemos nossa aquela comovente invocação dos primeiros cristãos com que termina a Sagrada Escritura: “Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22, 20) [cf. SnC, 19].

Por fim, deixemo-nos, desde já, atrair pela esperança, consentindo-lhe que, por nosso intermédio, se torne contagiosa para quantos a desejam. Possa a nossa vida dizer-lhes: “Confia no Senhor! Sê forte e corajoso, e confia no Senhor” (Sl 27, 14). Que a força da esperança encha o nosso presente, aguardando com confiança o regresso do Senhor Jesus Cristo, a Quem é devido o louvor e a glória agora e nos séculos futuros. Amém!

Dom Moacir Silva
Arcebispo Metropolitano

Boletim Informativo Igreja-Hoje
Janeiro/Fevereiro 2025

Veja também: