A memória de quem por lá passou

A Casa Dom Luís foi nascedouro de vocações e formadora de agentes de pastoral preparados para o exercício missionário que a Igreja lhes confiava. Durante os 50 anos de sua existência enquanto reduto de retiros, encontros e momentos de espiritualidade, diversas pessoas por lá passaram e deixam hoje sua palavra sobre os acontecimentos e as experiências vivenciadas.

Na década de 1960 a Arquidiocese de Ribeirão Preto reestruturou sua organização pastoral a partir dos documentos do Concílio Vaticano II e das necessidades sociais e culturais daquele período. Figura de realce nesse tempo é Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau, que, à época citada, era coordenador arquidiocesano dos serviços de pastoral. Ele relembra que no ministério de Dom Luís do Amaral Mousinho, que o ordenou em 1959, sempre havia a preocupação com a instrução dos católicos: “Foi um homem apaixonado pela Igreja, pela justiça, pela paz. Foi o homem do amor”. A formação doutrinal, espiritual e humana, nesse sentido, é o ponto chave para se compreender o ideal da Casa Dom Luís.

Os diocesanos tomaram a construção do seminário dos leigos como uma responsabilidade própria de seu estado na Igreja, de modo que se uniram em prol das campanhas de arrecadação. Margarida Del Lama, filha do falecido Diác. Antônio Del Lama, relembra as atividades de seu pai em favor da obra: buscava os materiais recicláveis – chamados de lixo recuperável – a domicílio a fim de separá-los e vendê-los. “Meu pai tinha um caminhãozinho três quartos e ele, com uns colegas marianos, topou o desafio e foi então recolher vidro, papelão e essas coisas”.

A Irmã Maria Luiza Zanelato, que administrou a Casa por mais de 15 anos, memora a marcante passagem do Núncio Apostólico Dom Umberto Mozzoni por lá. Conta que o esperavam com júbilo e que, ao chegar, ele abençoou os pavilhões e quis conhecer as Servas de Jesus Sacerdote que nela trabalhavam.

Foto do mencionado retiro de reinauguração em 21 de julho de 1997.

Quando as irmãs consagradas deixaram Brodowski – SP no final da década de 1980, Ivonete Balbino, conhecida como Goreti, passou a residir nas instalações da Casa Dom Luís, ficando responsável por zelar pelo edifício, pelos jardins e pela cozinha: “Foi um tempo muito bom, trabalhei muito feliz lá”. Ela conta que tudo era feito com “união e amor”, desde a limpeza dos quartos para os retiros até a acolhida de andarilhos que lá pediam abrigo e ajuda. Relata que tantos eram os encontros e retiros que diversas vezes trabalhou à noite a fim de preparar o ambiente para eventos subsequentes. Ela e sua filha lá permaneceram até 1993 quando, por determinação de Dom Arnaldo Ribeiro, a reforma foi iniciada.

A reabertura ocorreu em um retiro do clero no qual Dom Alberto Taveira Corrêa, à época bispo de Palmas, pregou aos padres de Ribeirão Preto. Então, que Dom Arnaldo Ribeiro passou a responsabilidade administrativa da Casa ao ecônomo do arcebispado, que era o Pe. José Carlos Rossini. Ele recorda que naquele momento retiros e encontros se realizavam em um ambiente aprimorado e receptivo aos fiéis, que buscavam a Casa Dom Luís para todos os tipos de eventos. Durante mais de 10 anos, ele cuidou diretamente das finanças e da agenda da Casa, de modo que pôde conhecer a necessidade pastoral e importância do seminário dos leigos. Por isso, afirma que “a Casa Dom Luís é uma riqueza da Arquidiocese”.

No biênio 2018-2020, o Pe. Círio Alessandro Jacinto auxiliou o economato nas atividades administrativas da Casa. Ele apresenta sua visão sob um viés crítico acerca do objetivo inicial da Casa Dom Luís ao afirmar que esta enquanto locus theologicus do laicato, isto é, local de florescimento da teologia leiga, passou a ser utilizada mais como ambiente voltado ao clero e a entidades civis: “O Brasil viveu em 2018 o ano do leigo e, de certa forma, a Casa deve ser a referência na Arquidiocese de Ribeirão Preto para que os leigos possam se formar, crescer e estudar, sendo de fato o seminário do leigo”. Ele realça, ainda, que lá se tornou um importante centro de encontro de pessoas comprometidas com a fé cristã, não se restringindo à pastoral leiga.

De fato, a Casa Dom Luís desde seu início abrigou as demandas de clérigos e leigos. Inúmeras e diversas são as pessoas que por lá passaram e a memoram como importante elemento para a compreensão do estado da formação arquidiocesana laical e eclesiástica.

 

Bruno Paiva Meni
Arquivo Metropolitano “Dom Manuel da Silveira D’Elboux”

10º Artigo – Série Histórica: Especial 50 anos da Casa Dom Luís
(Desde 14 de agosto de 2021, mensalmente no dia 14 de cada mês, publicamos um artigo histórico por ocasião do jubileu de ouro da Casa Dom Luís)

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