A vocação sacerdotal

No mês de agosto, sempre celebramos o mês dedicado as vocações específicas: ministérios ordenados, família, religiosos e também a vocação laical. Esse ano, revestido de alegria muito maior, porque estamos vivendo o 3º ano vocacional do Brasil. Nesse intuito e olhando para a graça e a missão que a vocação contém em si mesma, refletiremos sobre a vocação sacerdotal.

O objetivo deste breve texto é dar um testemunho vocacional, não da minha própria vocação, mas da vocação de outros sacerdotes que vivem a beleza da vocação ou daqueles que já viveram essa graça, porque hoje habitam o céu. Falarei da beleza vista naquele que observei, respondendo ao chamado que fez os corações arderem e os pés se moverem na missão que lhes foi confiada.

O papa Francisco fez algo parecido no encontro com os sacerdotes em Roma, e eu, com filial modéstia, não quero propor a mesma reflexão, mas faço uso também de suas palavras. Ele aponta que a melhor palavra sobre o sacerdócio se dá quando é possível refletir sobre os testemunhos dos sacerdotes que ao longo dos anos vamos colhendo.

O sacerdócio é um tesouro que Deus oferece aos homens, aos quais “ele mesmo escolheu” (cf. Mc 3,13-19) subiu a montanha e chamou os que ele mesmo quis) no entanto, o sacerdócio precisa ser vivido para ser aprendido.

Muitos pensam que para ser sacerdote basta cursar o período formativo no seminário, ser no mínimo formado em filosofia e teologia e cumprir os anos de formação, para que a Igreja, escolha-o como sacerdote. Mas, isso somente não basta, existe uma força oculta e individual de uma voz, de uma palavra, que só quem se dispõe a ouvir entende sua ação. É a graça da vocação. Como nos diz o Texto-Base do 3º Ano Vocacional: “sem a resposta o milagre não acontece[…] a voz de Jesus é uma realidade viva e ativa que chega ao coração e que suscita a resposta da fé, que renova o coração, capacita e chama para o amor concreto. O milagre para Jesus se dá na resposta da fé” (TB n. 102-103).

Portanto, creio que também o testemunho de alguns sacerdotes possa servir para atualizar em nós a mesma experiência fundamental que moveu a vida de tantos sacerdotes, e que precisa ser renovada nessa dinâmica do chamado. Para quem não é sacerdote, essas experiências nos servem de estímulo, ou para responder ao chamado que ainda virá, ou para reanimar nossa fé.

Vivi minha infância e juventude em Jardinópolis, e nessa cidade havia um pároco polonês chamado Padre Moisés Scrycki (1913-2005), de saudosa memória, ele sempre me incentivou a seguir o caminho da vocação sacerdotal, embora eu ainda pequeno não entendesse. Ele era um homem que falava o português com muita dificuldade, mas que gostava muito de gastar tempo conversando com os fiéis os quais conhecia muito bem a cada um. Era um sacerdote que tinha uma grande intimidade com Jesus. Em nossas conversas, sempre se preocupava com a escolha, perguntava se ia bem, se não tinha notas ruins. Incentivava sempre a busca pela oração e, sobretudo, era um padre que mesmo na velhice servia aos mais necessitados, dava apoio às famílias e valorizava as pessoas. Anos mais tarde, quando ouvi dos documentos Optatam Totius do Concílio Vaticano II, Pastores Dabo Vobis de João Paulo II e na Ratio Fundamentalis que o padre precisa ter a devida maturidade humana ou ser um perito em humanidade, recordei-me da humanidade que observava no saudoso Padre Moisés.

De outros sacerdotes, gostaria de trazer alguns exemplos que me incentivaram a viver também o sacerdócio. Convivi com sacerdotes nos anos de minha formação que por seu exemplo me ensinaram a arte de contemplar, os vi rezando quando admiravam as obras da criação, os vi rezando quando por horas ficavam em silêncio na capela diante do sacrário. Vi padres que tinham as mãos calejadas pelo trabalho de erguer suas comunidades, tanto fisicamente quanto pastoralmente. Vi padres apaixonados pelo seu ministério. Pude reconhecer que são homens com pecados, como cada um dos filhos de Deus, mas que levam um tesouro em vasos de barro (2Cor. 4,7) que doaram suas vidas e que sabem que o caminho ainda é longo, mas que vale a pena ser percorrido.

Por fim, um último relato sobre o que colho de Dom Moacir, nosso arcebispo. Faz 10 anos que está presente no meio de nós como nosso pastor, ele tem insistido muito na proximidade dos sacerdotes com o bispo, e assim tem agido, um bispo presente, orante, próximo e atento a quem queira aproximar-se, um verdadeiro pai, que acredita na força santificadora de Deus, que atua no ministério sacerdotal e que é muito consciente da presença transformadora dos sacerdotes no mundo.

Deus nos envie sempre santas vocações, e que possamos cada dia mais colher testemunhos que nos sirvam para edificação da fé e da Igreja povo de Deus.

Padre Alcides Pizeta Neto
Serviço de Animação Vocacional
Comissão Arquidiocesana do 3º Ano Vocacional do Brasil

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