A celebração do cinquentenário da Casa Dom Luís é a ocasião propícia para se refletir sobre o seu futuro. As condições específicas do tempo presente às quais a Igreja se depara, como o indício do fim da pandemia que há mais de dois anos força as distâncias e faz oscilar a participação dos fiéis em suas comunidades, tornam necessária a participação ativa e coletiva dos católicos na escolha dos caminhos que concretamente serão traçados. Desse modo, a Casa Dom Luís agora retoma sua urgente missão formadora do laicato após permanecer em um silencioso retiro. Se não há possibilidade de uma assertiva previsão dos rumos do futuro, há, todavia, indicações das novas demandas do mundo em progresso que lá deverão ser atendidas.
A pastoral do Papa Francisco tem se fundamentado na escuta dos diversos segmentos eclesiais, o que resulta em uma ação que os concatena com vistas à autêntica unidade. É nesse sentido que o pontífice propôs à Igreja do mundo todo a prática da sinodalidade: esta remonta a Jesus Cristo, que em seu ministério esclareceu os princípios de comunhão, participação e missão, norteadores do processo sinodal atual (2021-2023). Na constituição Lumen gentium reitera-se o preceito da unidade da humanidade por meio da Igreja, “corpo místico de Cristo”. Os padres conciliares afirmam que a Igreja surge justamente da união do povo sob os auspícios trinitários, isto é, da comunhão do povo histórico e concreto, o “povo de Deus”, com a Trindade.

Nesse sentido, ao fundamentar-se nessa teologia da união, “a sinodalidade visa tornar efetiva e eficaz a participação de todos na Igreja”, conforme explicita Dom Pedro Carlos Cipollini em Sinodalidade: tarefa de todos (2021). Busca-se integrar e ao mesmo tempo respeitar as especificidades eclesiais de todos os povos, tornando a sinodalidade, de fato, um modo de ser da Igreja, e não uma repartição do poder que se dá pela participação. Assim, a unidade passa a ser trabalhada por meio da sinodalidade.
Os sínodos diocesanos foram instrumentos utilizados durante a história da Igreja, desde o medievo, passando pela Idade Moderna até a instituição permanente do Sínodo dos Bispos, em 1965, pelo Papa Paulo VI. Assim, estes representaram ao longo do tempo momentos internos de deliberação, por isso, entende-se que estão na natureza da própria Igreja. Agora, o projeto se torna mais amplo: é o abrir-se à voz das comunidades de todos os países em suas necessidades e pontuações sobre a vida eclesial. A convocação de um sínodo sobre a sinodalidade está na lógica do autoconhecimento e a participação dos leigos é fator fundamental para que essa ideia se realize, especialmente na fase diocesana do sínodo, que consiste na escuta dos fiéis.
O protagonismo leigo é reiterado pelo magistério do Papa Francisco. No princípio de seu pontificado, ele apontou as problemáticas do mundo globalizado e apresentou aos agentes pastorais as formas de superá-los. Afirmou que os leigos não devem estar a serviço apenas dentro da Igreja, mas, de fato, levá-la para ambientes sociais pelos quais percorrem. Nesse sentido, reitera que “a imensa maioria do povo de Deus é constituída por leigos. […] Cresceu a consciência da identidade e da missão dos leigos na Igreja. Embora não suficiente, pode-se contar com um numeroso laicado, dotado de um arreigado sentido de comunidade e de uma grande fidelidade ao compromisso da caridade, da catequese, da celebração da fé” (Evangelii Gaudium, 2013, p. 64).

Após as experiências sinodais, o pontífice então exorta o povo católico a partir das matérias debatidas e traça as sendas a serem construídas. Fato pertinente a ser pontuado é que as temáticas postas em questão nos últimos anos estão majoritariamente relacionadas ao laicato.
A situação das famílias na atualidade foi discutida entre os bispos e, ao final do processo, o papa considerou que “o bem da família é decisivo para o futuro do mundo e da Igreja” (Amoris laetitia, 2016, p. 29). Do mesmo modo, a juventude foi ouvida em um sínodo preparado especialmente para isso que enfatizou o compromisso social dos jovens com o bem comum, no exercício do voluntariado, da cidadania ativa e da solidariedade (Chistus vivit, 2019). Em consonância com a perspectiva da ecologia integral, era necessário que a Igreja discutisse, também, sua pastoral na Amazônia, que representa uma grande e diversificada área eclesial na América do Sul. Assim, tratando sobre o sonho social, o Papa Francisco pondera que: “o nosso é o sonho de uma Amazônia que integre e promova todos os seus habitantes, para poderem consolidar o “bem viver” (Querida Amazônia, 2020, p. 9).
Nesse sentido, entende-se que os próximos tempos colocarão ainda mais em evidência a necessidade de leigos instruídos e da presença cristã e católica na sociedade, que se altera, transmuta e assimila novos pensamentos e comportamentos constantemente. A Arquidiocese de Ribeirão Preto, assim, já dispõe de histórico e importante ambiente de formação para seus agentes pastorais. Portanto, a Casa Dom Luís estará no caminho para continuar a cumprir o objetivo pela qual foi planejada há 50 anos: estar acessível à pluralidade do laicato em seus multifacetados serviços na Igreja.
Bruno Paiva Meni
Arquivo Metropolitano “Dom Manuel da Silveira D’Elboux”
12º Artigo – Série Histórica: Especial 50 anos da Casa Dom Luís
(Desde 14 de agosto de 2021, mensalmente no dia 14 de cada mês, publicamos um artigo histórico por ocasião do jubileu de ouro da Casa Dom Luís)