A Campanha da Fraternidade 2020 tem como tema: “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” e como lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34). Esta postura do bom samaritano quer impulsionar todos e cada um de nós no caminho da conversão pessoal e comunitária.
A CF-2020 tem como objetivo geral: “Conscientizar, à luz da Palavra de Deus, para o sentido da vida como Dom e Compromisso, que se traduz em relação de mútuo cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa Casa Comum” (Texto-base [TB], 25).
Depois de uma boa introdução, inspirada no texto de Lc 10, 25-37, o bom samaritano, e no espírito do tempo quaresmal, o texto-base se estrutura em três partes.
Parte I: “VIU, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34). Diante do convite para vivermos uma profunda conversão, temos duas maneiras de olhar que são apresentadas por Jesus na parábola do bom samaritano: um olhar que vê e passa em frente, vivido pelo sacerdote e pelo levita; e um olhar que vê e permanece, se envolve, se compromete, vivido pelo samaritano. Diante desses olhares, há uma vida em jogo, em perigo, necessitada e vulnerável. Para uma verdadeira mudança de vida, precisamos aprender a configurar nosso olhar com o de Jesus, com o olhar do Bom Samaritano (cf. TB, 26). O olhar de Jesus é sempre cheio de atenção para os outros.
Olhando a realidade que nos cerca, nos deparamos com um outro olhar, o olhar da indiferença que gera ameaças à vida, olhar que abandona a vida das pessoas. No Brasil, 22,6% das crianças e adolescentes com idade entre 0 e 14 anos vivem em situação de extrema pobreza (TB, 30). No Documento de Aparecida, os Bispos apontam para o surgimento de novos rostos de pobres cuja vida é desrespeitada e, constantemente, violada (DAp, 402). O desemprego é também agressão a vida humana. O alto número de suicídios. Os povos indígenas que sofrem sucessivas agressões em seus territórios, culturas e vidas. Em tudo isso, observa-se a forte banalização da vida.
Parte II: “Viu, SENTIU COMPAIXÃO, e cuidou dele” (Lc 10, 33-34). Na parábola do Bom Samaritano, o olhar que Jesus nos ensinou é o olhar daquele que se compromete com o outro. Um olhar interessado, não em si mesmo, mas no bem do próximo, seja ele quem for: simpático ou antipático, de qualquer etnia ou religião, amigo ou inimigo. O olhar da compaixão gera um ‘permanecer com’, uma presença que salvaguarda, cuida e transforma a vida de quem mais precisa (TB, 82). Esta parte desenvolve ricamente a questão da compaixão e sua relação com a justiça; reflete sobre a caridade como verdadeiro sentido da vida, sobre a relação da ternura e o cuidado; reflete também sobre a ecologia integral e chama a atenção para a questão do desafio do sentido: o que é a pessoa humana? Qual o sentido e finalidade da vida, especialmente a vida humana? De onde provêm os inúmeros sofrimentos? (TB, 155).
Parte III: “Viu, sentiu compaixão, e CUIDOU DELE” (Lc 10, 33-34). Assim, aprendemos com o Bom Samaritano: o meu próximo é aquele de quem eu me achego. É aquele a quem dedico cuidado. É aquele com quem tenho a alegria de compartilhar o caminho da vida. A vida é essencialmente samaritana (TB, 163). Esta parte nos convida ao compromisso com a vida; um compromisso pessoal, uma renovação familiar na comunidade eclesial missionária. Chama a atenção para um maior compromisso com a Jornada Mundial dos Pobres, no 33º domingo do Tempo Comum, com muitas indicações práticas.
Acompanha a três partes do Texto-Base reflexões e testemunhos de Santa Dulce dos Pobres. Dulce, presença inquestionável do amor de Deus pelos pobres e sofredores.
Desejo que as reflexões propostas pela CF-2020 e os apelos do tempo quaresmal ajude a cada um de nós a avançar no caminho da conversão para podermos cantar a vitória da vida no Cristo Ressuscitado.
Dom Moacir Silva
Arcebispo Metropolitano
Igreja-Hoje – Janeiro/Fevereiro 2020