Nos dias 04 a 10 de outubro, a Arquidiocese de Ribeirão Preto recebeu a visita da Irmã Petra Silvia Pfaller, coordenadora da Pastoral Carcerária Nacional da CNBB; acompanhada de Vera Lúcia Dalzotto, Assessora Nacional da Pastoral Carcerária para a Questão da Justiça Restaurativa; e de Erika Lúcia da Silva Leite, responsável pela Justiça Restaurativa (Projeto Conectas).
A visita teve como intuito conhecer as realidades pastorais da Pastoral Carcerária, o sistema prisional das penitenciárias que pertencem ao território da Arquidiocese de Ribeirão Preto, os diretores das penitenciárias, e conhecer o trabalho com egressos desempenhado pela Pastoral Carcerária.
O Capelão e Coordenador Arquidiocesano da Pastoral Carcerária, padre Rafael Carlos dos Santos Ribeiro; e o Coordenador da Sub-Região RP-1, Samuel Melo, conduziram e acompanharam os encontros, visitas em alguns sistemas prisionais, tais como: Penitenciária de Ribeirão Preto, Penitenciária de Ribeirão Preto Feminino, Centro de Detenção Provisória. A visita da Pastoral Carcerária Nacional proporcionou o encontro com alguns diretores e defensoria pública.
A visita oportunizou a conversa com o arcebispo dom Moacir Silva, onde partilharam o motivo da viagem e a troca de experiências sobre a sinodalidade e a importância da catequese nas penitenciárias.
A Assessora Nacional da Justiça Restaurativa, Vera Dalzoto, enfatizou a importância da Justiça restaurativa, sendo que “A justiça restaurativa é um modelo de resolução de conflitos que busca a reparação do dano causado, focando na restauração das relações e na promoção de uma justiça verdadeiramente transformadora. Esse conceito ganha ainda mais profundidade quando entrelaçado com a religião e os princípios espirituais, especialmente no contexto cristão, onde a sinodalidade e a inclusão estão no centro do entendimento da fé”.
Vera ainda aprofundou a temática da sinodalidade: “A sinodalidade, presente na Igreja Católica, é a caminhada conjunta, o caminhar junto com o outro, em diálogo, escuta e corresponsabilidade. Assim como a justiça restaurativa, a sinodalidade envolve um processo de construção coletiva, onde todas as vozes são ouvidas, especialmente as daqueles que estão à margem da sociedade. Neste sentido, a justiça restaurativa e a sinodalidade convergem: ambas propõem que a transformação ocorre através do encontro, da empatia e do compromisso mútuo com o bem-estar do próximo”.
A respeito da importância da religião como base para a justiça restaurativa complementou a Assessora Nacional da Justiça Restaurativa: “Dentro desse contexto, a religião desempenha um papel crucial. Muitas tradições religiosas, e em especial o cristianismo, são alicerçadas no perdão, na compaixão e no amor ao próximo, valores que estão na base da justiça restaurativa. Jesus Cristo, em seus ensinamentos, não apenas pregava a reconciliação e o perdão, mas também caminhava ao lado dos marginalizados, mostrando que a verdadeira justiça não é punitiva, mas restauradora. Essa visão se opõe à exclusão, propondo o acolhimento de todos, incluindo os mais vulneráveis, como as pessoas encarceradas, as vítimas de violência e as comunidades pobres e periféricas”, disse Vera.
A prática da justiça restaurativa abre campo para pensar princípios religiosos como caminho para a integração digna da pessoa na sociedade, como revela Vera: “É nesse ponto que a desigualdade social se torna uma questão central. A justiça restaurativa, aliada à religião e à sinodalidade, não pode ignorar o fato de que a maior parte dos conflitos, especialmente no âmbito criminal, está profundamente enraizada nas desigualdades sociais. As populações pobres, negras e periféricas, são muitas vezes as mais afetadas pela violência e pela injustiça sistêmica. A justiça restaurativa, nesse contexto, propõe não apenas a resolução dos conflitos imediatos, mas uma transformação mais ampla das estruturas que perpetuam essas desigualdades. A prática da justiça restaurativa, quando orientada por princípios religiosos, nos desafia a enxergar o outro com amor, empatia e dignidade. Ela nos convida a reparar o que foi quebrado, a incluir os que foram excluídos e a construir uma sociedade onde a justiça é sinônimo de igualdade, inclusão e respeito pela vida em todas as suas formas. E, ao trilhar esse caminho sinodal, em comunhão com os mais vulneráveis, buscamos não apenas a restauração de indivíduos e relacionamentos, mas também a renovação de uma sociedade mais justa e solidária”.
A responsável pelo “Projeto Conectas” Érika Lúcia proporcionou aos egressos e interessados oficinas para a geração de renda. A Justiça Restaurativa conta com diversos projetos de formação, o Projeto Conectas é um deles, e iniciou seus trabalhos em agosto de 2023 com a intenção de ajudar egressos a recomeçar no mercado de trabalho. O projeto surgiu após círculos de motivação de práticas circulares para agentes da pastoral, onde foi visto a necessidade de muitos no mercado de trabalho.
Padre Rafael Carlos dos Santos Ribeiro
Coordenador e Capelão da Arquidiocese de Ribeirão Preto