
Como quinto arcebispo de Ribeirão Preto, Dom Romeu Alberti criou as possibilidades para que os seus diocesanos, mesmo os das comunidades distantes e em formação, recebessem assistência religiosa e participassem da unidade eclesial. Propulsor do diaconato permanente e da evangelização pelos meios de comunicação, pôs em prática as diretivas conciliares a fim de unir integralmente a Igreja particular.
Filho de católicos piedosos, Romeu nasceu na capital paulista e se destacou, desde a infância, pela assiduidade nos estudos e por sua precoce inteligência. Apesar da pouca idade, a vocação lhe parecia madura e, por isso, ingressou no Seminário Menor de Pirapora, sendo orientado pelos cônegos premonstratenses. Por dois anos estudou filosofia no Seminário Central do Ipiranga, onde foi reconhecido por sua capacidade intelectual. Assim, foi enviado a Roma em 1947 para realizar sua formação teológica e lá, aos 24 anos, recebeu a ordenação presbiteral.
Ele continuou os estudos na Universidade Gregoriana e doutorou-se em direito canônico. Por sua tese ter sido aprovada com louvor por banca rigorosa e obtido alta nota, Pe. Romeu foi laureado pelo governo italiano com uma medalha de ouro, como relata Dr. Antonio Atallah em Dom Romeu Alberti: Pastor e Acadêmico. Ao regressar ao Brasil, atuou na Arquidiocese de São Paulo como diretor espiritual do seminário central e também foi vice-oficial do Tribunal Eclesiástico. Por sua destacada atividade, foi-lhe concedido o título de monsenhor e, então, o Cardeal Mota, arcebispo metropolitano, decidiu lhe confiar o cargo de vigário geral. Ele conseguia dialogar com o clero das distintas zonas episcopais que contavam com sacerdotes de diferentes idades e formas de exercício pastoral.

Foi nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese a qual pertencia e escolheu o dia 24 de maio de 1964 para sua sagração como bispo. Sob o lema “Omnes sint unum” – Que todos sejam um –, Dom Romeu Alberti começou seu ministério episcopal e logo em julho do mesmo ano seguiu para Roma a fim de participar das últimas discussões do Concílio Vaticano II.
Especial ofício o Papa Paulo VI confiou a Dom Romeu Alberti ao nomeá-lo o primeiro bispo diocesano da recém-criada Diocese de Apucarana no Paraná, no final de 1964. Após a instalação da Igreja particular e a sua posse, ele intensivamente trabalhou a fim de formar o patrimônio e o clero diocesano. Inicialmente, propôs-se a conhecer a realidade para então começar a atuar pastoralmente, valendo-se do método “ver, julgar e agir” adotado pelo Plano de Emergência da CNBB. Desde o princípio, buscava realizar uma “pastoral global” ao contemplar as necessidades eclesiais e humanas. Por isso, serviços diversos foram criados com o propósito de que todos os diocesanos fossem assistidos espiritualmente.

O povo de Apucarana vivia intensamente ao redor de seu bispo de modo que as visitas pastorais de Dom Romeu mobilizavam as cidades da região do centro-norte paranaense. Sem deixar as atividades episcopais em sua diocese, por dez meses ele esteve à frente da Arquidiocese de Botucatu entre 1968 e 1969 como administrador apostólico com o intuito de prepará-la para a chegada do novo arcebispo. À luz do conciliar, Dom Romeu impulsionou a instituição do diaconato permanente em Apucarana, que se tornou referência no Brasil, inclusive sediando o III Encontro Inter-regional dos Diáconos Permanentes, em 1975.
Anos mais tarde, após o período de sete meses de vacância, a Sé de Ribeirão Preto conheceu seu novo arcebispo: eleito, Dom Romeu Alberti, aos 55 anos, tomou posse em 22 de agosto de 1982, afirmando que desejava integrar-se “nesta grande comunidade humana como homem, como cristão, como amigo, como irmão, como pai, enfim como Bispo da Igreja, para somar e não diminuir, para multiplicar e não dividir as forças de uma nova sociedade mais justa, mais humana, mais cristã”.
Dom Romeu encontrou uma Igreja ainda enlutada pela morte de Dom Miele, entretanto, buscou dar continuidade às atividades iniciadas por seu antecessor. Desse modo, fomentou o trabalho de determinadas pastorais que, naquele momento, julgou serem prioritárias, como as que se voltavam ao batismo, à liturgia, à família e às comunidades eclesiais de base. Todavia, a problemática que se sobrepunha na Arquidiocese de Ribeirão Preto era a falta de sacerdotes.

Dom Romeu investiu na formação e ordenação de diáconos permanentes para o cuidado pastoral nas comunidades sem assistência religiosa enquanto fomentava o ingresso de jovens nos seminários.
Tornou-se conhecido como o “pai do diaconato permanente no Brasil” ou “o bispo dos diáconos” pois o trabalho começado em Apucarana pôde continuar sendo realizado em Ribeirão Preto, onde ele ordenou 15 homens para a diaconia arquidiocesana. No Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), Dom Romeu participou ativamente nas comissões e, assim, foi um difusor da restauração do ministério diaconal permanente na América Latina, bem como da teologia diaconal, expressa nos documentos de Puebla.

Ademais, criou a Ação Diaconal Arquidiocesana em 1985, organizando o exercício desse ministério e propiciando o estudo e a espiritualidade dos diáconos, que eram dirigidos pelo Pe. Dejanir de Paula. Dom Romeu, no entanto, não deixou de incentivar as vocações sacerdotais: acolheu sacerdote egresso e de outras dioceses, ordenou seis padres e orientou os seminaristas para o trabalho nas comunidades onde não havia assistência religiosa.
Outro referencial na pastoral de Dom Romeu foi seu apelo aos modernos meios de comunicação para efetivamente evangelizar. Acreditava que por meio da comunicação se poderia chegar à unidade da Igreja a que sempre falava, tendo como um instrumento para isso o informativo Igreja Hoje, que veiculava a palavra do arcebispo, os eventos arquidiocesanos e as demandas dos católicos em todo o mundo.

Entretanto, o arcebispo passou por momentos de tensão por conta de sua forma de governar, visto que algumas contendas surgiram devido a modelos de orientação da prática pastoral aos que ele não se aproximava. Os que aderiam à essa linha teológica se sentiram reprimidos ao passo que Dom Romeu buscava ressaltar sua autoridade de bispo. De fato, ele pretendia que a “família arquidiocesana” – expressão que corriqueiramente utilizava – vivesse conforme os princípios da unidade, e por isso agiu conforme lhe parecia propício para as situações que se impunham.

Por sofrer de inflamação na medula óssea, que lhe atingia diretamente o sistema imunológico, a saúde de Dom Romeu foi agravada por uma pneumonia, ocasionando sua morte na manhã do dia 6 de agosto de 1988. Então, clérigos, religiosos e religiosas, diáconos permanentes e leigos se uniram a fim de se despedir do arcebispo que por 6 anos governou a Igreja de Ribeirão Preto.
Bruno Paiva Meni
Arquivo Metropolitano “Dom Manuel da Silveira D’Elboux”
Fontes
ARQUIVO METROPOLITANO “Dom Manuel da Silveira D’Elboux”. Arquidiocese de Ribeirão Preto, Cúria Metropolitana, Caixa 14.
ATALLAH, Dr. Antonio. Dom Romeu Alberti Pastor e Acadêmico. Mitra Diocesana de Apucarana. Apucarana, 1991.
CORREIA, Côn. Francisco de Assis. História da Arquidiocese de Ribeirão Preto (1908-2008). Editora Grafcolor, 2008.