Homilia do Papa Leão XIV na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Homilia do Papa Leão XIV na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo
Praça de São Pedro – 10h30
Jubileu dos Coros

Queridas irmãs e queridos irmãos,

no salmo responsorial, cantámos: «Iremos com alegria à casa do Senhor» (cf. Sl 121). Por isso, a liturgia de hoje convida-nos a caminhar juntos no louvor e na alegria ao encontro do Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, Soberano manso e humilde, Aquele que é o princípio e o fim de todas as coisas. O seu poder é o amor, o seu trono é a Cruz e, por meio da Cruz, o seu Reino irradia-se sobre o mundo. «Da Cruz ele reina» (cf. Hino Vexilla Regis) como Príncipe da paz e Rei de justiça que, na sua Paixão, revela ao mundo a imensa misericórdia do coração de Deus. Este amor é também a inspiração e o motivo do vosso canto.

Queridos coristas e músicos, hoje celebrais o vosso jubileu e agradeceis ao Senhor por ter-vos concedido o dom e a graça de o servir, oferecendo as vossas vozes e os vossos talentos para a sua glória e para a edificação espiritual dos irmãos (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, 120). A vossa responsabilidade é envolvê-los no louvor a Deus e torná-los mais participantes da ação litúrgica através do canto. Hoje expressais plenamente o vosso “iubilum”, a vossa exultação, que nasce do coração inundado pela alegria da graça.

As grandes civilizações nos deram a música para que pudéssemos expressar o que sentimos no fundo do coração e que nem sempre as palavras conseguem transmitir. Todos os sentimentos e emoções que nascem no nosso íntimo a partir de uma relação viva com a realidade podem encontrar voz na música. De modo particular, o canto representa uma expressão natural e completa do ser humano: a mente, os sentimentos, o corpo e a alma se unem para comunicar as grandes coisas da vida. Como nos lembra Santo Agostinho: “Cantare amantis est” (cf. Sermo 336,1), ou seja, “o canto é próprio de quem ama”: quem canta expressa o amor, mas também a dor, a ternura e o desejo que habitam no seu coração e, ao mesmo tempo, ama aquele a quem dirige o seu canto (cf. Enarrationes in Psalmos, 72,1).

Para o Povo de Deus, o canto expressa a invocação e o louvor, é o “cântico novo” que Cristo Ressuscitado eleva ao Pai, fazendo com que todos os batizados participem dele, como um único corpo animado pela Vida nova do Espírito. Em Cristo, tornamo-nos cantores da graça, filhos da Igreja que encontram no Ressuscitado a causa do seu louvor. A música litúrgica torna-se assim um instrumento preciosíssimo através do qual prestamos o serviço de louvor a Deus e manifestamos a alegria da Vida nova em Cristo.

Santo Agostinho exorta-nos, ainda, a caminhar cantando, como viajantes afadigados, que encontram no canto uma antecipação da alegria que sentirão quando alcançarem o seu destino. «Canta, mas caminha […] avança no bem» (Sermo 256, 3). Com efeito, fazer parte de um coro significa avançar juntos, tomando os irmãos pela mão, ajudando-os a caminhar conosco e cantando com eles o louvor a Deus, consolando-os nos sofrimentos, exortando-os quando parecem ceder ao cansaço, dando-lhes entusiasmo quando a fadiga parece prevalecer. Cantar lembra-nos que somos Igreja em caminho, autêntica realidade sinodal, capaz de partilhar com todos a vocação ao louvor e à alegria, numa peregrinação de amor e esperança.

Santo Inácio de Antioquia também usa palavras comoventes ao relacionar o canto do coro com a unidade da Igreja: «no acordo de vossos sentimentos e na harmonia de vosso amor, vós podeis cantar a Jesus Cristo. A partir de cada um, que vos torneis um só coro, a fim de que, na harmonia de vosso acordo, tomando na unidade o tom de Deus, canteis a uma só voz, por meio de Jesus Cristo, um hino ao Pai, para que ele vos escute e vos reconheça por vossas boas obras» (S. Inácio de Antioquia, Ad Ephesios, IV). Realmente, as diferentes vozes de um coro harmonizam-se entre si, dando vida a um único louvor, símbolo luminoso da Igreja, que no amor a todos une numa única melodia suave.

Pertenceis a coros que desenvolvem as suas atividades principalmente no serviço litúrgico. O vosso é um verdadeiro ministério que exige preparação, fidelidade, compreensão mútua e, acima de tudo, uma vida espiritual profunda, de modo que, se rezais cantando, ajudais todos a rezar. É um ministério que requer disciplina e espírito de serviço, especialmente quando é necessário preparar uma liturgia solene ou algum evento importante para as vossas comunidades. O coro é uma pequena família de pessoas diferentes, unidas pelo amor à música e pelo oferecimento do próprio serviço. Lembrai-vos, porém, que a comunidade é a vossa grande família: vós não estais à frente, mas fazem parte dela, empenhados em torná-la mais unida, inspirando-a e envolvendo-a. Como em todas as famílias, podem surgir tensões ou pequenos desentendimentos, coisas normais quando se trabalha em equipe e se esforça para alcançar um resultado. Podemos dizer que o coro é um pouco um símbolo da Igreja que, voltada para o seu destino, caminha na história louvando a Deus. Embora, às vezes, esse caminho seja repleto de dificuldades e provações, e os momentos de alegria se alternem com outros mais difíceis, o canto torna a viagem mais leve e traz alívio e consolo.

Portanto, empenhai-vos em transformar cada vez mais os vossos coros num prodígio de harmonia e beleza, sede cada vez mais uma imagem luminosa da Igreja que louva o seu Senhor. Estudai atentamente o Magistério, que indica nos documentos conciliares as normas para desempenhar da melhor forma o vosso serviço. Acima de tudo, sede capazes de fazer com que o povo de Deus participe sempre, sem ceder à tentação da exibição que exclui a participação ativa de toda a assembleia litúrgica no canto. Sede, desta forma, um sinal eloquente da oração da Igreja, que através da beleza da música demonstra o seu amor a Deus. Vigiai para que a vossa vida espiritual esteja sempre à altura do serviço que prestais, para que este possa refletir autenticamente a graça da liturgia.

Coloco-vos todos sob a proteção de Santa Cecília, a virgem e mártir que, aqui em Roma, com a sua vida, elevou o mais belo canto de amor, entregando-se totalmente a Cristo e oferecendo à Igreja o seu luminoso testemunho de fé e amor. Continuemos cantando e façamos nosso, uma vez mais, o convite do Salmo responsorial da liturgia de hoje: «Vamos com alegria para a casa do Senhor».

Fonte: Vaticano

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