No dia 19 de junho celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e o Dia de Oração pela Santificação dos Sacerdotes. Neste texto, convido os sacerdotes e fiéis para uma reflexão.
“Chegando a Jesus e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados transpassou-lhe o lado com a lança e imediatamente saiu sangue e água” (Jo 19, 34). Somos convidados a contemplar o Coração ‘rasgado’ de Cristo.
Ensina Pio XII, na Encíclica “Haurietis Aquas”, sobre o culto do Sagrado Coração de Jesus: “Com muita razão, pois, o coração do Verbo encarnado é considerado índice e símbolo do tríplice amor com que o divino Redentor ama continuamente o Eterno Pai e todos os homens. Ele é, antes de tudo, símbolo do divino amor, que nele é comum com o Pai e com o Espírito Santo, e que só nele, como Verbo encarnado, se manifesta por meio do caduco e frágil instrumento humano, ‘pois nele habita corporalmente a plenitude da divindade’ (Cl 2, 9). Ademais, o coração de Cristo é símbolo de enérgica caridade, que, infundida na sua alma, constitui o precioso dote da sua vontade humana, e cujos atos são dirigidos e iluminados por uma dupla e perfeita ciência, a beatífica e a infusa. Finalmente, e isto de modo mais natural e direto, o coração de Jesus é símbolo do seu amor sensível, já que o corpo de Jesus Cristo, plasmado no seio imaculado da Virgem Maria por obra do Espírito Santo, supera em perfeição, e portanto em capacidade perceptiva, qualquer outro organismo humano” (HA, 27).
Os sacerdotes são chamados a conhecer os tesouros de ternura contidos para eles no Coração de Jesus. Jesus quer levá-los a formarem o coração segundo o seu Coração, a identificarem-se mais e mais com ele. Quer, sobretudo, revelar-lhes o seu amor incomparável e, por meio dele, inflamá-los de uma caridade mais ardente, de uma doação mais ativa, mais generosa e mais terna para a salvação dos seus irmãos. A razão de ser do ministério sacerdotal é a salvação das almas. No rito da ordenação sacerdotal, pergunta-se ao candidato: “Queres unir-te cada vez mais ao Cristo, sumo Sacerdote, que se entregou ao Pai por nós, e ser com ele consagrados a Deus para a salvação da humanidade?”
Pela sagrada Ordenação, o sacerdote é configurado ontologicamente a Cristo Sacerdote, Mestre, Santificador e Pastor do seu Povo (Cf. DMVP, 6). “Os presbíteros são, na Igreja e para a Igreja, uma representação sacramental de Jesus Cristo Cabeça e Pastor, proclamam a sua Palavra com autoridade, repetem os seus gestos de perdão e oferta de salvação…” (João Paulo II, PDV, 15). Como Jesus, o sacerdote é chamado a passar por este mundo, fazendo o bem, apontando a verdade às inteligências, a consolação à dor, o perdão ao arrependimento. O coração do sacerdote deve ser conforme o coração sacerdotal de Jesus.
É estudando o coração do divino modelo, fazendo suas as virtudes dele, que o sacerdote conseguirá transformar o seu próprio coração. Ele precisa ir a esse coração divino; nele deve penetrar por uma amorosa meditação; mas sobretudo deve deixar-se penetrar pelas influências vitais que saem dele. Deve procurar pensar como o divino Mestre, amar como Ele, viver como Ele. Deve tornar-se, pela união, um só sacerdote com Cristo, um mesmo coração com o coração de Cristo.
Quando Jesus chama os sacerdotes ao seu coração, chama-os à fonte do amor; convida-os a irem beber à fonte da caridade divina. Jesus quer os sacerdotes, os seus bem-amados, semelhantes a Ele: santos como Ele, bons como Ele, verdadeiramente formados segundo o seu coração.
Uma das grandes preocupações do sacerdote deveria ser a de formar o seu coração segundo o coração de Jesus, de imprimir no próprio coração as mesmas virtudes do coração de Jesus, o mesmo amor, a mesma pureza, a mesma doçura.
O coração do sacerdote é um vaso onde Deus destila o seu amor. Deve ser puro esse vaso e deve ser bem grande. É preciso que seja vasto como o oceano e profundo como um abismo, pois a torrente do amor infinito quer passar por ele para ir até às pessoas.
Que esta reflexão nos ajude a celebrar bem a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e a rezarmos com mais fervor pela santificação dos sacerdotes.
Dom Moacir Silva
Arcebispo Metropolitano
Boletim Informativo Igreja-Hoje – Junho/2020