O crescimento populacional da “paragem dos Batataes”, era notório. O avanço agrícola no “caminho dos Batataes”, ou, no “Sertão dos Batataes”, ou ainda, no “Caminho dos Goyases” era rápido. Tudo estava caminhando para o desenvolvimento, para o progresso, também, as necessidades apareciam rapidamente, vorasmente; era preciso casar, era preciso batizar/crismar; era preciso enterrar os mortos em campo santo. Por isso, de tempos em tempos o vigário da freguesia mais próxima vinha, pelo “caminho dos Goyases” em desobriga.
Desobriga significa cumprir com os deveres; cumprir com as obrigações, ficar livre das obrigações; ser dispensado, ficar isento. Isso significa que em regiões que há falta de padres ou em lugares de difícil permanência de um padre, o bispo, responsável pelo pastoriamento, das determinadas regiões, designa um padre para fazer a desobriga.
Depois da passagem dos padres que compunham as bandeiras e que tinham a função de batizar, cristianizar, catolidizar os nativos e os que já estavam residindo nas paragens, vieram os padres de desobrigada.
Em 1789, já se tem notícias do padre Francisco Bueno de Azevedo passando pelo nosso caminho e paragem, desobrigando os batizados e realizando novos batizados. Assim monta-se uma longa lista de datas e padres caminhando em desobriga.
O primeiro deles foi o padre Francisco Bueno de Azevedo que ficou, nessa função, em nossa região de 1775 a 1798, falecendo em 1799. O padre Francisco era vigário da paróquia de Caconde, conhecido como Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Bom Sucesso do Rio Pardo, que abrangia, como território da freguesia, para o culto cristão, ou como conhecemos hoje, como extensão paroquial, do Rio Pardo ao Rio Grande.
Com a morte do Pe. Francisco Bueno de Azevedo em 1749 foram seus sucessores: Pe. José Venâncio de Souza, do bispado de Mariana e Pe. Jerônimo de Camargo Bueno.
O primeiro batizado realizado na paragem dos Batataes e registrado em livro de assentamento, data de 27 de agosto de 1781, dizendo respeito a Luiza, filha de Luiz de Sá e de sua esposa Margarida Gonçalves do Prado sendo padrinho José Nunes da Silva.
O primeiro sepultamento registrado, data de 10 de maio de 1814 e se tratava de Floriano, um jovem de 18 anos, escravo pertencente ao Alferes Antonio José Dias. O sepultamento aconteceu no cemitério do povoado, e um outro sepultamento aconteceu em 08 de agosto de 1814 e se tratava de Isidoro Rodrigues Caldas que foi sepultado dentro da igreja.
Por essa anotação podemos concluir que em 1814, antes, porém, da chegada do decreto de criação da Freguesia, já existia uma capela, que mais tarde passou a ser matriz.
O primeiro casamento foi registrado no dia 21 de setembro de 1815 e se tratava do casal Simplicio Lopes Eugênio e Silvana Maria da Conceição. Mais uma curiosidade.
A mudança da Freguesia da fazenda batatais para o Campo Lindo das Araras data de 1822/1823 e o livro 1º de óbto registra em 1823, no dia 2 de novembro o sepultamento, “no adro da matriz do Senhor Bom Jesus da Cana Verde do Campo-lindo das Araras o cadáver de Antonio José Dias Chaves de setenta e oito anos de idade, viúvo; faleceu de Icterícia…” Esse Antonio José Dias Chaves é o já conhecido Alferes, que tanto lutou para a instalação da freguesia e para não mudança da mesma.
É importante perceber que a mudança se deu em 1822/23 e no mesmo ano de 1823 a matriz nova já estava com a construção bem adiantada, pois já havia registro de sepultamento ao seu redor.
Finalmente em 1810 os moradores do Sertão dos Batataes se organizaram e fizeram um abaixo assinado pedindo para o Bispo de São Paulo Dom Matheus de Abreu Pereira criar duas freguesias nesse Sertão que compreendia entre Mogi-Guaçú e Franca.
Lembro que a freguesia de Franca foi criada em 29 de agosto de 1805. Uma freguesia entre os Rios Pardo e Sapucaí, desmembrado de Franca e outro entre os Rios Pardos e Jaguari-Mirim, desanexada de Mogi-Guaçú. Que seria de Batatais e Casa Branca. O padre de Franca e Mogi-Guaçú foram consultados. O de Franca disse que não se opunha mas que não havia capelas naquelas regiões e o de Mogi-Guaçú foi favorável somente a criação da Freguezia de Batatais pois financeiramente a de Casa Branca não teria condições de se sustentar.
O encaminhamento do abaixo assinado para o Bispado de São Paulo se deu na data de 29 de dezembro de 1810. Por isso no ano passado iniciamos o qüinqüênio preparatório ao ano jubilar do bicentenário em 2015.
Fonte: Pe. Pedro Ricardo Bartolomeu