Rumo a Pré-assembleia

Rumo a Pré-assembleia

Em comunhão com a Igreja no Brasil, estamos fazendo um caminho sinodal rumo a nossa pré-assembleia. Neste caminho percebemos que nossa sociedade não é uma realidade que se deixa iluminar tão facilmente pelo Evangelho. Há uma perigosa rede de dominação e manipulação que ameaça a vida e não se ocupa com o sentido da eternidade. As contínuas mudanças que ocorrem em nossa época produzem um fascínio que tanto fortalece quanto fragiliza a existência humana e a vida comunitária e social. Novas tecnologias aproximam e distanciam, conectam e isolam. Se antes a inteligência artificial parecia algo distante da nossa realidade, agora ela se faz cada vez mais presente alterando nossa rotina e gerando questionamentos sobre o futuro da tecnologia.

Atentos aos apelos por uma conversão pastoral e missionária precisamos identificar e rever as estruturas e atividades que não mais ajudam a anunciar e a viver coerentemente o Evangelho (DAp 365-372; EG 25). É preciso ir ao essencial e se ocupar menos com questões secundárias que pouco servem para formar discípulos de Jesus em nossas comunidades. Na linha da eclesiologia do Concílio Vaticano II, e escutando mais o que o processo do Sínodo tem oferecido, cresce a necessidade de valorizarmos mais nossa Igreja Local, renovando o senso de pertença à diocese e à paróquia – a diocesaneidade. E cientes de que a evangelização é sempre comunitária, desperta-se o senso de sinodalidade, de caminhar juntos.

Na sinodalidade o que mais vale é a participação e a corresponsabilidade de todos os batizados nos processos pastorais empreendidos pela comunidade paroquial, que mantém uma profunda comunhão afetiva e efetiva com a arquidiocese e, dessa forma, está unida à Igreja de Roma. Somente nesse movimento de comunhão com a arquidiocese e com a Santa Sé, com o bispo e o Papa, é que cada pequena comunidade pode se dizer católica e apostólica. Essa comunhão nos faz partir de um fundamento comum: a mesma fé; e ter o olhar voltado na mesma direção, respeitando a pluralidade de cada local, mas sempre caminhando na unidade. Ameaçar essa sinodalidade é comprometer a catolicidade. A distinção deve unir, e não separar.

Concretamente a sinodalidade exige uma conversão do nosso senso de comunidade. Sem sinodalidade a comunidade se configuraria como clube de sócios e não casa de irmãos; poderia formar uma confraria, mas não a reunião de discípulos de Cristo; poderia ser uma equipe de trabalho, mas não uma família de fé. A comunidade cristã não nasce de baixo, mas do alto, de Deus, que suscita o desejo no coração humano e a necessidade das pessoas de viver em comunhão com Cristo. Na comunidade se manifesta o mistério da Igreja, chamada constantemente a ser missionária da obra salvífica que Cristo realiza.

As comunidades eclesiais representam, de certo modo, a Igreja visível estabelecida sobre a Terra. Os fiéis de cada paróquia se empenham na evangelização e na pastoral, para que a comunidade seja sinal visível de Cristo onde está inserida. A expressão “de certo modo” indica que a paróquia não pode, em plenitude, ser considerada Igreja Particular. Somente a diocese representa, em si, perfeitamente, a Igreja visível estabelecida universalmente por Cristo, sempre em unidade com a Igreja presidida pelo Papa. Esse senso de pertença implica um senso de comunhão, de unidade e de sinodalidade.

Os elementos colocados acima nos impulsionam para a missão. A Igreja existe para evangelizar, e nada deve se antepor a essa missão. Ir ao encontro dos que se afastaram ou não conhecem nossa fé é a tarefa primeira de nossas Igrejas (RM 34), e, ainda hoje, representa nosso máximo desafio. Não podemos ficar tranquilos, em espera passiva, em nossos templos, pois a alegria do Evangelho, que dá sentido à vida dos discípulos, é uma alegria missionária (EG 21). Não podemos ficar numa pastoral de manutenção ou conservação (DAp 370) que faz sempre o mesmo e o mínimo para “manter” o que já existe. O amor é sempre criativo e supõe uma ousadia missionária (EG 259).

Dom Moacir Silva
Arcebispo Metropolitano

Boletim Informativo Igreja-Hoje
Julho/2023

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