Uma casa em construção

Ao convocar o episcopado para se reunir em um novo concílio, o Papa João XXIII salientou a necessidade de apresentar coerentemente a Igreja ao mundo em progresso. Visava, sobretudo, discutir e legitimar uma pastoral que agregasse a clara doutrina acerca da presença eclesial nas sociedades, evidenciando o papel da hierarquia e, também, a atuação do laicato. Dessa forma, documentava-se o que já se vinha sendo buscado com Pio XII: o fortalecimento do apostolado leigo, que se expandia e difundia a fé católica nos meios aos quais a Igreja não conseguia alcançar com precisão.

Na particular Igreja de Ribeirão Preto, Dom Luís do Amaral Mousinho foi quem sistematicamente buscou implementar a formação dos leigos e incentivá-los a praticar um autêntico apostolado. Do mesmo modo, preparou os levantamentos sociorreligiosos da região e apresentou suas sugestões para que fossem levadas ao Concílio Vaticano II, no entanto, faleceu meses antes do início da assembleia episcopal que marcou os caminhos traçados pela Igreja no século XX.

Pode-se afirmar que Dom Luís se adiantou às matérias que seriam tratadas e aprovadas pela Igreja à luz conciliar. A constituição dogmática Lumen gentium reafirmou a missão evangélica de apresentar Cristo a todos os seres humanos. Compreendeu, assim, que a Igreja é conduzida pelos ministros ordenados, que se dedicam quase integralmente à salvaguarda das almas e, aos leigos, compete-lhes “por vocação própria, buscar o reino de Deus, ocupando-se das coisas temporais e ordenando-as segundo Deus”. Desse modo, a vida familiar e as relações sociais – como as profissionais – deviam convergir para a missão, que era colocar, eficazmente, a Igreja em contato com a secularidade.

Todavia, outro documento dedicou particular atenção à atuação apostólica dos leigos. Já no proêmio do decreto Apostolicam actuositatem, o Papa Paulo VI e os padres conciliares apresentaram a presença dos leigos na história da Igreja – que se comprova em determinadas passagens do Novo Testamento – e enfatizaram as problemáticas às quais o laicato do mundo hodierno deve enfrentar, considerando o crescimento populacional e os avanços técnico-científicos. Assim, os leigos devem ser cônscios de sua vocação e do objetivo que se sobrepõe nos diversos meios aos quais participa: o estabelecimento de uma nova ordem temporal na qual Cristo figure como centro da cultura, da política, da economia e das relações entre os povos.

O referido decreto se preocupou, ainda, com a formação dos leigos, que devia ser “múltipla e integral”. Insistia para que fossem criados centros que fomentassem o estudo e a espiritualidade, instruindo leigos para os valores humanitários, doutrinários e religiosos.
No arcebispado de Ribeirão Preto, as diretivas conciliares logo encontraram campo para serem aplicadas. Dom Agnelo Rossi, imediato sucessor de Dom Luís, ao reconhecer o propício momento, optou por investir no projeto de criação do seminário dos leigos.

Inicialmente, pensava-se em sediar o mencionado seminário na cidade episcopal, Ribeirão Preto, e Dom Agnelo confiou à Federação Arquidiocesana das Congregações Marianas a responsabilidade pela construção. No entanto, o local mais apropriado para a edificação era ao lado do Seminário Maria Imaculada em Brodowski – SP. Então, o terreno foi demarcado e os projetos de obra foram apresentados, tendo-se optado pelo de autoria do Dr. Carlos Geraldo Consoni.

Dom Agnelo escreve que em 1º de maio de 1964 programou a passagem da imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida – que percorria a região devido à preparação para a Concentração Mariana – pela Catedral Metropolitana. Então, em um cortejo com mais de cem automóveis, o arcebispo e os fiéis levaram a pedra fundamental e a imagem até Brodowski, onde foi solenemente lançada contando com “a presença de delegações paroquiais, sobretudo de congregados marianos” (Livro Tombo da Arquidiocese de Ribeirão Preto – D. Agnelo Rossi, p. 46).

Foi escolhido o novo e permanente título para o seminário que se construiria: Casa Dom Luís do Amaral Mousinho. Dom Agnelo explicava que lá seria um “monumento perene consagrado à memória do Arcebispo que tanto batalhou pelo apostolado leigo” (Diário de Notícias, 14/06/1964). Afirmava que por ser dinâmica e pastoral, a Casa constituiria uma verdadeira homenagem a Dom Luís. Nesse sentido, afirmou que “esta casa de formação […] recolherá o espírito e as lições do ilustre Prelado, sempre muito unido ao S. Padre e às preocupações da Igreja Nossa Mãe e Mestra” (Diário de Notícias, 14/06/1964).

Iniciava-se, desse modo, a realização do antigo ideal de formação para o laicato, que naquele momento se respaldava, sobretudo, no espírito conciliar. As campanhas em prol da edificação do seminário dos leigos foram lançadas e aderidas em todo o território arquidiocesano: o lixo recuperável e os girassóis constituíram a primeira fonte para aquisição de recursos para a construção. Assim, os primeiros tijolos eram postos na Casa Dom Luís.

Bruno Paiva Meni
Arquivo Metropolitano “Dom Manuel da Silveira D’Elboux”

3º Artigo – Série Histórica: Especial 50 anos da Casa Dom Luís
(A partir de 14 de agosto de 2021, mensalmente no dia 14 de cada mês, publicaremos um artigo histórico por ocasião do jubileu de ouro da Casa Dom Luís)

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